quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CULTURA DE MASSAS

1. A Cultura de Massas e o Desejo de Evasão

Tradicionalmente, a noção de cultura era concebida como um fenómeno elitista, próprio de uma minoria prestigiada e dominante na sociedade, constituída por indivíduos poderosos e intelectualmente aptos.
Era vista como algo reservado às classes sociais mais elevadas, e, por isso, se chamava cultura de elites.
A partir do séc. XX a cultura de elites foi substituída por uma cultura de massas, graças aos meios de comunicação de massas que investiram numa «indústria cultural» dirigida às grandes massas.
Esta visava a ocupação dos tempos livres dos trabalhadores, procurando também compensá-los da monotonia e solidão das sociedades modernas. A cultura passava assim a ser pensada com vista a chegar às
grandes massas, enquanto bens de consumo culturais.
Este alargamento da cultura às grandes massas resultou da conjugação de vários factores: a melhoria das condições de vida dos trabalhadores; a sua alfabetização com a obrigatoriedade do ensino primário; e o aparecimento dos novos meios de comunicação como a rádio, o cinema, a imprensa.
Características da cultura de massas:
 é difundida pelos mass media;
 é multifacetada, quer nos conteúdos, quer nas formas que apresenta;
 é superficial na abordagem dos temas;
 interessa-se pelo imediato, cultivando a novidade;
 é de duração efémera;
 é uma cultura de evasão (através dela os indivíduos abstraem-se dos seus problemas quotidianos);
 contribui para a estandardização dos comportamentos, pois divulga determinadas atitudes e princípios aceites pela sociedade e que apontam para um "tipo de pessoa média."

Principais Manifestações da Cultura de Massas:

1. A MÚSICA LIGEIRA

Na década de 20, o desenvolvimento da rádio e da indústria de discos e gramofones fizeram divulgar a música que veio a atingir grande popularidade junto das massas.
Paralelamente à música clássica, desenvolve-se a música ligeira, com ritmos relacionados com a agitação da vida urbana.
Surgiram novos géneros musicais como o jazz, o swing, os blues, o rock, e o pop, entre outros.
Destacaram-se Elvis Presley e grupos musicais como «Os Beatles», nos anos 60.

2. OS ESPECTÁCULOS DESPORTIVOS

No século XIX, o desporto era praticado apenas por elites, mas com a entrada no século XX vai ganhar um número crescente de praticantes e de adeptos, tornando-se o espectáculo favorito das multidões.
Nos finais do século XIX, foi retomada a ideia helenista dos Jogos Olímpicos, com o intuito de mundializar o desporto. Os I Jogos Olímpicos da Era Moderna têm lugar em Atenas, em 1896 e os II têm lugar em Paris, em
1900, no ano da Exposição Universal.
Modalidades como o futebol, o ciclismo e o automobilismo registaram nesta época um grande aumento da sua popularidade, transformando-se em desportos de massas. Outras modalidades surgem também como o ténis de mesa, o esqui, o boxe e a natação.
Muitos destes desportos, sobretudo o futebol, considerados actividades de lazer, rapidamente se transformam em grandes negócios, movimentando milhões e com efeitos em vários sectores económicos.
Os espectáculos desportivos, pelo imenso apoio popular que os rodeiam, acabam por se transformar também em espectáculos muito emotivos, cheios de emoção, de combatividade e de antagonismo.
Tal situação, vai fazer do desporto um escape para a canalização e libertação de tensões diárias, acumuladas na vida profissional, social e familiar. Através do desporto, atletas e espectadores descarregam no
espectáculo sobre os adversários, árbitros e autoridades policiais, tensões e frustrações acumuladas no dia-a-dia.
Deste modo, o desporto passou a ser, para as massas, além de uma forma de lazer, também uma forma de evasão da dureza do quotidiano, tornando-se, por isso, muito útil no controle das tensões sociais e políticas
nas sociedades modernas. A eventual revolta social canalizar-se-ia assim, não para motins e revoluções, mas para inofensivos espectáculos desportivos.

3. O CINEMA E O SEU IMAGINÁRIO MÍTICO

Surgiu ainda no séc. XIX, com os irmãos Lumière. Era, inicialmente, mudo e só se tornou sonoro no fim dos anos 20. A sua técnica foi, depois, desenvolvido por Édison, nos E.U.A.
O cinema mudo rapidamente se transformou em sonoro e as cores rapidamente invadiram o écran.
Começando por ser uma forma de arte, o cinema transformou-se também numa indústria que vai conhecer um desenvolvimento sem precedentes, atraindo largas multidões fascinadas. Sendo uma forma barata
de diversão, o cinema iria ganhar cada vez mais público, à medida que os desenvolvimentos técnicos traziam para junto das pessoas mundos e imagens de uma riqueza inatingível, fornecendo uma forma de escape à
monotonia do dia-a-dia, uma fuga aos seus próprios problemas.
O desejo de evasão manifestado pelas massas foi alimentado pelos próprios meios de comunicação, que criavam histórias felizes e personagens com vidas perfeitas.
Com o cinema vieram as estrelas de cinema, adoradas por milhões, desejosos de copiar a forma como viviam. Em torno dessas estrelas criaramse verdadeiros mitos.
Os actores atraíam de tal forma o grande público que garantiam por si só o sucesso de um filme e ajudavam a reforçar o imaginário mítico, já que prolongavam a ficção do ecrã para a vida real. Passavam a ser considerados seres simultaneamente humanos e divinos, pois viviam no écran situações que muitos homens e mulheres gostariam de viver. Através deles, os homens sonham, esquecendo as tristezas da sua vida desinteressante. O cinema transforma-se assim no sonho imaginário.
Mesmo nos piores momentos de depressão, havia dinheiro para fugir às privações e entrar no mundo maravilhoso do cinema, pois quanto piores fossem os tempos, mais arrebatadores e grandiosos eram os filmes.
Entre as estrelas mais «adorados» pelas multidões encontravam-se Rudolfo Valentino, Greta Garbo, Clark Gable, Mae West, Marlene Dietrich e Marilyn Monroe.
Destacaram-se no cinema realizadores como Charles Chaplin, Sergei Eisenstein, Joseph Von Steinberg, Jean Renoir, Alfred Hitchcock e Walt Disney.
O grande impacto do cinema no público transformou o cinema num poderoso meio de difusão de modelos socioculturais, levando-o a impor modelos de comportamento seguidos pelos espectadores (estilo de vida,
moda, maneiras de estar e de falar, ideologias).
O cinema foi também muito utilizado pelos Estados para fins de propaganda ideológica. Na II Grande Guerra, foi usado como arma de propaganda contra as potências inimigas. Tanto Aliados como as potências
do Eixo usavam histórias do passado para fazerem prevalecer os ideais do presente.
EM PORTUGAL O cinema surgiu ainda no século XIX, graças a Aurélio dos Reis, que apresentou no Porto os seus primeiros filmes mudos. O cinema deixa a pouco e pouco a fase de exibições de feira em feira, para passar a ser uma verdadeira "indústria cinematográfica" com uma divulgação mais
alargada.
O sucesso do cinema mudo português surgiu com filmes como «Maria do Mar» (Leitão de Barros) e «Douro» (Manoel de Oliveira). Os primeiros filmes sonoros foram «A Severa» (Leitão de Barros) e «A Canção de Lisboa» (Cottinelli Telmo).
Tal como as restantes actividades artísticas, o cinema não escapou ao controle do regime do Estado Novo, passando, a partir de 1935, a depender do Secretariado da Propaganda Nacional e a ser alvo da censura. A ideologia conservadora estava presente nas personagens e histórias dos filmes da época, fazendo-se sempre o elogio de princípios como a ordem, a autoridade, o papel passivo da mulher, a exaltação do império, dos heróis nacionais e da vida rural.
Tal era visível em filmes políticos como «A Revolução de Maio», «Feitiço do Império», filmes de fundo bucólico como «As Pupilas do Senhor Reitor» , «Maria Papoila» e comédias urbanas lisboetas como «O Pai Tirano» e «O Pátio das Cantigas».
O cinema português entra em decadência a partir dos anos 50, na sequência da vigilância apertada da censura do Estado Novo.

4. A LITERATURA POLICIAL e a BANDA DESENHADA

Também os escritores criaram géneros literários dirigidos às grandes massas criando, na primeira metade do século XX, dois géneros muito diferentes que vão ganhar muita popularidade:
- a Novela Policial, onde se explora o gosto das massas pelo «suspense».
Os seus principais criadores foram Agatha Christie («Miss Maple» e «Inspector Poirot») e Georges Simenon ( «O Comissário Maigret»).
- a Banda Desenhada, a história em quadradinhos, que se tornou um grande sucesso. A junção da imagem (muito rica) e do texto (leitura fácil) captou, de imediato as crianças e um público adulto menos letrado. As suas personagens mais famosas foram: Super-Homem, Mandrake, Fantasma, Tarzan, Tio Patinhas e Pato Donald, entre outros, que se transformaram em verdadeiros heróis internacionais.
2. Os Mass Media, veículos de modelos sócio-culturais Nos inícios do séc. XX, surgem novos meios de comunicação que se vão designar como os mass media. São a imprensa escrita, a rádio, o cinema e a
televisão. Como permitem difundir para um público muito numeroso e variado uma quantidade maciça de informação, vão ter um papel muito importante nas sociedades modernas. O seu papel é variado:
- difundem a informação;
- promovem a cultura;
- contribuem para a educação;
- divulgam a publicidade;
- são utilizados na propaganda política.
Assumem, por isso, um papel de relevo na formação da opinião pública, o que os torna muito cobiçados pelos poderes políticos e económicos.
Para além disso, o facto de pretenderem atingir toda a gente, contribuem para provocar uma estandardização/uniformização de comportamentos, pois a sociedade tende a imitar os modelos/padrões de
conduta que são divulgados nesses meios de comunicação.
Imprensa Escrita
Foi o principal meio de informação pública nas primeiras décadas do século XX. A sua crescente difusão resulta de:
- aperfeiçoamento das técnicas de impressão, possibilitando impressão de jornais em escalas elevadas;
- novos meios de transporte, nomeadamente o comboio que permitiram o transporte dos jornais a todos os locais;
- número crescente de leitores devido ao aumento do seu nível de vida e ao cada vez maior número de alfabetizados, com o ensino obrigatório;
- o recurso à publicidade nos jornais que contribuiu para um maior equilíbrio das empresas jornalísticas, dando-lhes mais independência face ao poder político;
A imprensa especializa-se conforme os gostos do público. Surgem jornais noticiosos, desportivos, femininos, infantis. Os grandes jornais têm também diferentes secções, procurando captar diferentes públicos. Surgem
também revistas femininas, revistas de cinema ou de arte.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, parecia que a democracia liberal se ia impor em todos os países da Europa. Na realidade, porém, o período entre as duas guerras acabou por ser um período negro para a demografia europeia.
Por toda a parte, desenvolveram-se os movimentos políticos de extrema-direita favoráveis ao autoritarismo, isto é, movimentos políticos que atacavam a democracia parlamentar e propunham a implantação de ditaduras. Na Rússia soviética, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária: nasceu da aplicação do marxismo-leninismo e culminou no estalinismo. Já na Itália e posteriormente na Alemanha, o Estado totalitário foi produto do fascismo e do nazismo e revestiu um cariz mais conservador.

OS FASCISMOS: TEORIA E PRÁTICAS

Dos movimentos de extrema-direita europeus, o primeiro a conseguir tomar o poder foi, o Partido Nacional Fascista, em Itália. A expressão fascismos passou, depois, a ser usada de forma mais geral para caracterizar partidos e regimes políticos de outros países, com semelhanças com o exemplo Italiano.

As características fundamentais do fascismo eram:

Rejeitam
· o individualismo, o respeito pelos direitos do Homem e pela dignidade humana, pois os direitos do indivíduo tinham de estar submetidos ao interesse do Estado;

· o principio liberal da igualdade (defendiam a existência de raças superiores e que nasciam para comandar e outras inferiores que nasciam para obedecer);

· o principio liberal da liberdade, porque a liberdade era vista como uma forma de divisão e enfraquecimento do grupo;

· o principio liberal da fraternidade, porque os totalitarismos contêm em si a guerra que irão ser conduzidos a Europa e o Mundo;

· a democracia, pois era considerado um regime de fraqueza, assim como a escolha dos governantes pelo povo de inútil demagogia;

· o pluripartidarismo, que pões em causa a coesão e força d Nação e geram divisões e discussões;

· o socialismo e o comunismo porque: assentavam na luta de classes que conduz a divisões e enfraquecimento do corpo social, propõem formas de poder em que a maioria de indigentes nascidos para obedecer se sobrepõe às elites nascidas para governar,com a sua politica de internacionalização contrariam a coesão e a afirmação nacional;

· o liberalismos económico por privilegiar os interesses individuais contra os interesses do Estado.

Em antítese a estas negações, os totalitarismos afirmam:

· o ultranacionalismo, ao considerarem a Nação como um valor sagrado, um bem supremo;

· o imperialismo, ao defenderem que o nacionalismo deve ser altivo e ambicioso;

· o autoritarismo do Estado.

. contra os particularismos locais, afirmam a forte centralização do poder; o interesse colectivo sobre os interesses individuais, dos grupos profissionais ou das classes sociais.

Propõem regimes de ditadura, estados policiais em que a própria justiça é colocada às suas ordens, na esconjuração das impurezas nacionais, pela condenação mais pelas intenções dos acusados do que pelos seus actos;

· o culto do chefe, providencial, guia e salvador da Nação. O culto do chefe traduz-se pela difusão ilimitada da sua imagem em todos os sítios que a isso se proporcionem;

· o partido único na intermediação das relações entre o chefe e o povo, onde se forma a classe dirigente;

· o socialismo nacional na forma corporativista, considerado como a melhor arma para combater o internacionalismo comunista e a luta de classes. Contrapõe uma forma de socialismo através da qual os patrões e operários cooperam no mesmo objectivo de grandeza nacional, em vez de lutarem por interesses individuais;

· que o Estado deve ser auto-suficiente. É com o desenvolvimento da produção nacional que o Estado se pode tornar forte e independente, proporcionando emprego aos seus cidadãos.


ELITES E ENQUADRAMENTO DAS MASSAS

Homens providenciais ou super-homens, os chefes foram promovidos à categorização de heróis. Simbolizavam o Estado totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos. Deviam ser seguidos sem hesitação, prestando-se-lhes um verdadeiro culto que raiava a idolatria.
Mas as elites não incluíam apenas os chefes. Delas faziam parte a raça dominante, os soldados e as forças militares, os filiados no partido, os homens de uma forma geral. Consideradas cidadãs inferiores, às mulheres nazis, que estavam destinadas a vida de lar e a subordinação ao marido.
Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o elevado respeito das massas. Em todos os locais, cabia-lhes veicular a ideologia dominante, assegurar o cumprimento estrito da ordem, manter a Nação submissa.
A obediência cega das massas obedeceu a pratica fascista, totalmente avessa a qualquer manifestação de vontade individual e de espírito crítico. Começava logo nos primeiros anos com a integração das crianças em organizações. Na Itália, depois de passarem por sucessivos escalões de formação, os jovens integravam, a partir dos 18 anos, as Juventudes Fascistas. Na Alemanha, entravam nas Juventudes Hitlerianas. Eram desta forma dada uma forte inculcação de valores nacionalistas e anticomunistas nas crianças e jovens.

A arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, deles esperando a total adesão e a identificação com o fascismo. Contava-se, para efeito, com diversas organizações de enquadramento de massas:

· o Partido Único (Nacional-Fascista – na Itália; Nacional Socialista – na Alemanha), cuja filiação se tornava indispensável para o desempenho das funções publicas e militares e de cargos de responsabilidade;
· a Frente do Trabalho Nacional-Socialista e as corporações italianas, que forneciam aos trabalhadores condições favoráveis na obtenção de emprego (substituíram os sindicatos livres, entretanto proibidos)
· a Dopolavoro na Itália e a Kraft durch Freud na Alemanha, associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores com actividades recreativas e culturais.

O Estado totalitário fascista investiu muito no controlo das mentes e das vontades. A propaganda mostrou-se como um forte auxilio. Uma gigantesca maquina de propaganda, apoiada nas então modernas técnicas audiovisuais, promovia o culto ao chefe, publicava as realizações do regime e submetia a cultura a critérios nacionalistas e até racistas.

O CULTO DA FORÇA E DA VIOLÊNCIA E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

A violência esteve no âmago do fascismo e do nazismo. Ambas as ideologias repudiavam o legado racionalista e humanista da cultura ocidental.
A violência acompanhou, desde o inicio, a prática fascista. Na Itália, ainda Mussolini não conquistara o poder e já os esquadristas semeavam o pânico. Só mais tarde, os esquadristas foram reconhecidos oficialmente como milícias armadas do Partido Nacional-Fascista. Cabia-lhes vigiar, denunciar e reprimir qualquer acto conspiratório. Idênticas funções que competiam à policia politica.

O mesmo aparato repressivo e atentatório dos mais elementares direitos humanos à liberdade e à segurança teve lugar na Alemanha. O Partido Nacional-Socialista criou as Secções de Assalto (S.A.) e as Secções de Segurança (S.S.), milícias temidas pela brutalidade das suas acções.
Com a vitória do nazismo, as milícias e a polícia política (Gestapo) exerceram um controlo apertado sobre a população e a opinião pública. A criação dos campos de concentração, completou o dispositivo repressivo do nazismo. Administrados pela S.S. e pela Gestapo, neles se encerraram os opositores políticos.

O nazismo levou ao extremo o racismo que caracteriza ideologias fascistas. Os nazis acreditavam descender de uma raça superior, a raça ariana, a quem incumbia a obrigação de dominar o mundo pela eliminação das raças inferiores.

- A eugenia nazi
O primeiro objectivo do nazismo deveria ser a purificação da raça ariana pela selecção dos seus membros mais genuínos e eliminação dos impuros.
Para isso, desenvolveram profundos estudos para determinar as características da raça ariana e aplicaram as conclusões da analise dos tipos fisionómicos e mentais na depuração eugénica da raça. Isto é, encontrados os indivíduos perfeitos, machos e fêmeas eram acasalados e submetidos à aplicação rigorosa das leis da genética a fim de obter novos cidadãos dotados com as qualidades raciais superiores.
Ao mesmo tempo, deficientes mentais, doentes, portadores de qualquer deficiência ou debilidade eram esterilizados ou eliminados.

- O anti-semitismo
O passo seguinte da política racista alemã era preservar a pureza da raça pela eliminação das raças inferiores que a contaminavam. Entre todas, a mais inferior era constituída pelos judeus que acusavam de serem causadores de todos os males da sociedade. Por conseguinte, fizeram do seu extermínio um dos grandes objectivos políticos.
Numa primeira fase, os judeus foram segregados, boicotados, excluídos. Numa segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as suas pessoas e bens com destruições programadas dos seus locais de culto e de actividade económica, intensificando-se a sua segregação com o seu encerramento em guetos. Numa terceira fase, com o começo da Segunda Guerra Mundial, os judeus foram submetidos às mais humilhantes condições de trabalho e, finalmente, a um extermínio cientificamente preparado que se traduziu no genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças nos campos de concentração.

A AUTARCIA COMO MODELOS ECONOMICO

Os totalitarismos cresceram à medida que se agravavam as condições económicas e financeiras de uma Europa destruída pela guerra e cresciam as promessas de solução de todos os problemas por ideologias fortemente nacionalistas.
Uma vez no poder, os regimes totalitários fizeram da auto-suficiência económica e da resolução do problema do desemprego poderosos veículos de afirmação do nacionalismo político. Era o ideal de autarcia traduzido na adopção de políticas económicas fortemente intervencionistas através das quais as actividades produtivas eram colocadas ao serviço do Estado.

- Na Itália:
Ganhou particular relevância o controlo da economia pelo enquadramento de todas as actividades laborais nas corporações.
Paralelamente, Mussolini ficou ligado ao lançamento de amplas campanhas de produção envolvidas por poderosas e, por vezes, espectaculares manifestações de propaganda em que os trabalhadores eram exortados a trabalhar intensamente de forma a conseguir altos níveis de produtividade. As mais famosas foram a “batalha de trigo”, visando o aumento da produção deste cereal, e as campanhas tendo em vista a recuperação de terras para a agricultura e a construção de grandes obras públicas.
As actividades industriais e comerciais passaram também por um forte controlo do Estado, já nos anos 30, com o lançamento de programas de industrialização e de controlo do volume das exportações e importações.
Os resultados dos programas económicos italianos foram positivos, todavia, o desenvolvimento do país foram conseguido à custa de grandes sacrifícios da população, quer em trabalho, quer em impostos, quer em sujeição a rigorosos racionamentos do consumo.

- Na Alemanha:
Hitler não divergiu substancialmente das políticas económicas adoptadas por Mussolini. Tornar a Alemanha independente dos empréstimos estrangeiros pelo relançamento da economia e, ao mesmo tempo, resolver o problema de 6 milhões de desempregados foram a bandeira da propaganda que levou os nazis ao poder. Para o conseguir, Hitler levou a cabo uma politica de grandes obras públicas, como a construção de auto-estradas e outras vias de comunicação e desenvolvimento do sector automóvel, aeronáutico, químico, siderúrgico e da energia eléctrica.
Relevante no combate ao desemprego e na captação da simpatia dos grandes industriais alemães foi o relançamento da indústria militar e a reconstituição do exército e da força aérea, contrariando as imposições de Versalhes. Nos finais da década, a Alemanha estava plenamente remilitarizada e preparada para se lançar na conquista da Europa.


O ESTALINISMO

Após a morte de Lenine, gera-se um problema de sucessão entre dois destacados membros da Direcção do Partido Comunista:
- Trotsky: líder carismático da revolução bolchevique;- Estaline: comissário do Povo para as Nacionalidades e mais tarde, secretário-geral do partido de paz.
Das duas estratégias propostas para os destinos políticos do Estado Soviético, venceu a tese proposta por Estaline que defendia a necessidade de consolidar a revolução primeiro no URSS, e só depois partir para a sua internacionalização.
Uma vez no poder, toda a sua acção política foi norteada por dois grandes objectivos:
- a construção da sociedade socialista; - a transformação da Rússia numa grande potência mundial.
Conseguiu a concretização destes através da colectivização dos campos, da planificação económica e do totalitarismo repressivo do Estado.

COLECTIVIZAÇÃO E PLANIFICAÇÃO DA ECONOMIA

A construção da sociedade socialista foi feita através de um regime totalitário, pela violência e pela força, centrado na colectivização dos campos e na planificação económica.
Lenine interrompeu o processo liberalizador instituído com a NEP e arrancou irreversivelmente para a nacionalização de todos os sectores da economia. Quase não havia propriedade privada na Rússia. O Estado apropriara-se da terra, do subsolo, das instalações fabris, do comércio, de capitais e de outros rendimentos de trabalho, transformando antigos proprietários em simples assalariados.
A oposição a este processo por parte dos kulaks e dos nepman provocou a repressão em massa da população de que resultaram milhões de mortos e deportados para campos de trabalho forçado em mais uma manifestação de força e autoridade do centralismo democrático estalinista.
Eliminada a propriedade privada dos meios de produção, o Estado soviético, seu único detentor em representação dos trabalhadores, implanta uma rigorosa planificação da economia.

A propriedade rural foi organizada segundo dois tipos de propriedade (quintas colectivas/cooperativas de produção) apoiados por parques de máquinas:
· Kokhoses – correspondiam a grandes propriedades agrícolas colectivas trabalhadas pelos camponeses, geralmente da mesma região, em regime cooperativo, sob administração de delegados do partido;
· Sovkhoses – grandes propriedades dirigidas directamente pelo estado, para qual a mão-de-obra trabalhava na qualidade de assalariado,

O comércio foi organizado à semelhança da propriedade rural em cooperativas de consumo local ou em grandes armazéns estatais.

A indústria foi o sector onde mais se fez sentir o rigor da planificação. Estaline desenvolveu uma planificação económica, denominada de Planos Quinquenais, com duração de cinco anos, onde estabeleceu os objectivos a atingir em cada etapa de crescimento:
- no primeiro plano (entre 1928 e 1933), deu prioridade absoluta à industria pesada. Pretendia proceder à criação dos sólidos fundamentos de futuros programas industriais que garantissem a independência económica do país. Fomentou a construção de grandes complexos siderúrgicos, hidroeléctricos, fabris, de redes de comunicações, exploração de matérias-primas e produção de alimentos;
- no segundo plano (1933 a 1938), o objectivo foi o desenvolvimento da industria ligeira e alimentar, de forma a proporcionar melhor qualidade de vida às populações;
- o terceiro plano, previsto para os cinco anos seguintes, visava o sector energético e as industrias químicas, mas foi interrompido em 1939 com o começo da Segunda Guerra Mundial.

Os planos forma retomados depois da guerra, mas os objectivos foram de recuperação económica do país e a investigação científica, no ambiente de Guerra Fria.
A concretização e o sucesso dos planos construíram outra manifestação da autoridade central. Com efeito, considerando as dificuldades estruturais em que decorreu, a industrialização estalinista só foi possível:
· através de uma forte disciplina que passava pela imposição de trabalhos forçados;
· por deportações em massa de trabalhadores através da instituição de prémios, que podiam ir até à glorificação pública;
· pela propaganda que instituiu o culto a Estaline e ao Estado soviético.


O TOTALITARISMO ESTALINISTA

O Estado estalinista revelou-se omnipotente e totalitário:
- Todas as regiões foram russificadas e submetidas a Moscovo.
- Os cidadãos viram-se privados de liberdades fundamentais. Toda a sociedade ficou enquadrada em organizações que a vigiavam, desde os jovens, inscritos nos Pioneiros e, depois, nas Juventudes Comunistas, aos trabalhadores, obrigatoriamente filiados nos sindicatos afectos ao Partido Comunista.
- Só o Partido Comunista monopolizava o poder politico: às eleições apenas se apresentavam os candidatos por ele propostos; por sua vez, o centralismo democrático permitia-lhe o controlo dos órgãos do Estado.
- A superintendência da economia cabia ao Estado: fazia-o através da colectivização e da planificação.
- A própria cultura foi obrigada a exaltar a grandeza do Estado soviético e a render culto à personalidade do seu chefe, Estaline.
Com efeito, com Estaline, o centralismo democrático evoluiu para a ditadura. Mas não foi para a ditadura do proletariado, como propunham as teses marxistas, foi para a ditadura do Partido Comunista.
A partir de 1924, Estaline empreendeu uma maquiavélica perseguição a todos os que revelassem possibilidades de lhe fazer oposição. Levando a cabo sucessivas purgas, através de processos obscuros, eliminou todos os potenciais concorrentes ao poder, incluindo antigos e importantes intervenientes no processo revolucionários, conseguindo que praticamente todos fossem afastados do partido.
O Partido Comunista transformou-se, pois, num partido de quadros, profundamente burocratizado e disciplinado, o que facilitava o reforço dos poderes do Estado.
O Estado totalitário, alicerçado na ditadura do Partido Comunista, aguentou-se à custa de uma repressão brutal, levada a cabo pela NKVD, a nova polícia política. A partir de 1934, a URSS enveredou pela repressão crónica, caracterizada pelas purgas e pelos processos políticos.
Até ao fim da década, dois milhões de pessoas sofreram a deportação para os campos de trabalhos forçados e setecentas mil foram executadas. A ditadura estalinista ficaria associada a um dos regimes mais despóticos da História da Humanidade.


* Explica em que consistiu o eugenismo e anti-semitismo nazi

* Caracteriza o modelo económico seguido pelos totalitarismos fascistas