Natalidade, Mortalidade e MigraçõesPode-se caracterizar a evolução populacional no séc. XIX como sendo uma explosão demográfica. Neste processo de crescimento a Europa ocupou um lugar central e o seu crescimento foi rápido e intenso, sendo em 1900, de longe, o continente mais povoado. Podemos falar também de uma explosão branca sobretudo na América, na África e na Austrália que aumentaram a sua população com a vinda dos europeus que passaram a ser ¼ da população mundial.
Ao analisarmos a explosão demográfica europeia o primeiro facto a ter em conta diz respeito ao decréscimo da mortalidade – embora a mortalidade infantil permanecesse elevada, a verdade é que a baixa de mortalidade foi geral e irreversível. Isto pode ser explicado pela melhor higiene a nível individual e público (com a construção de esgotos e instalações para abastecimento de água potável), pela melhoria na alimentação e pelos avanços na medicina. Entretanto as taxas de natalidade sobem relativamente até 1870 e depois estagnam ou decrescem a partir daí, dando-se início ao regime demográfico moderno.
Em relação a migrações podemos distinguir dois tipos principais:
èAs migrações do campo para a cidade, ou seja, o êxodo rural, impulsionado pelas dificuldade na agricultura e pelos efeitos da industrialização, tornando as cidades em poderosos pólos de atracção para as massas camponesas.
è A Emigração, levada a cabo principalmente pelos Europeus que saem em massa da Europa para o resto do mundo. 45 milhões de homens dirigem-se ao longo do séc. XIX para os EUA, Canadá, América Latina, Austrália, Nova Zelândia e outras – criando-se deste modo uma extraordinária explosão branca à escala planetária.
Os motivos que levaram as pessoas a sair da Europa foram vários: a Europa estava superpovoada, havia uma precária distribuição dos recursos, os países novos necessitavam de mão-de-obra para explorar os seus ricos recursos naturais e ofereciam sociedades abertas e flexíveis onde a promoção era rápida e a própria política colonialista dos países Europeus empurrava as pessoas para o povoamento e exploração económica das suas colónias.
Em Portugal a emigração foi sobretudo para o Brasil, para os EUA, para África e também para outros países da Europa.
A Urbanização na Europa e a Cidade no séc. XIX e XX (inícios)A população urbana conhece um impulso decisivo no séc. XIX. De uma forma geral a urbanização foi mais significativa nos países industrializados e nos países novos. As cidades passam de 23 em 1800 para 135 em 1900.
As cidades expandem-se essencialmente porque se verifica um crescimento da população e a industrialização leva muitas vezes ao êxodo rural favorecido pela revolução dos transportes. Deste modo houve mudanças em relação aos sectores de trabalho: o sector primário recuou enquanto o secundário e o terciário cresceram.
Outro factor que influencia o crescimento urbano é a emigração – as pessoas emigram para os países que lhes oferecem melhores condições de trabalho – os escoseses e irlandeses emigram para a Inglaterra, os polacas para a França, os EUA são o maior exemplo de uma população urbana com imensas origens diferentes.
Mal preparadas para receber as multidões, as cidades não possuíam os adequados sistemas sanitários, redes de distribuição de água ou serviço de limpeza de ruas. Nos bairros populares superpovoados uma grande maioria da população vivia na miséria e promiscuidade. Periodicamente surgiam grandes epidemias de cólera e tuberculose que faziam razias na cidade. Havia muitas manifestações de desregramento e delinquência (prostituição, mendicidade, alcoolismo, criminalidade, etc.). Além disto a cidade era propícia a greves, manifestações e revoluções da classe operária.
Para resolver todos estes problemas, foram levados a cabo pelo Estado grandes projectos urbanísticos nas cidades.
Em Paris o Barão Haussmann é encarregue de planear uma nova cidade e modernizá-la, melhorando os parques parisienses e criando outros, construindo vários edifícios públicos, como a L’Opéra. Melhorou também o sistema de distribuição de água e criou uma grande rede de esgotos.
Além disto, o Barão demoliu as ruas sujas e apinhadas da cidade medieval e criou uma capital ordenada sobre a geometria de avenidas e boulevards.
Um dos aspectos mais importantes na reconstrução de Paris foi o facto de Haussmann ter destruído as ruelas que eram propícias a que se erguessem barricadas em caso de revolta popular e as ter substituído por longos e rectos boulevards e avenidas que impossibilitavam o aparecimento de barricadas temidas pelo Imperador, além de facilitar a acção das cargas de cavalaria e de artilharia pesada.
Por outro lado, o Barão não se interessava só com os aspectos políticos da sua construção - A sua Paris foi concebida para ser também bela, afluente e vigorosa.
Nos EUA a urbanização processou-se em altura, criando-se uma paisagem característica de arranha céus.
De uma forma geral este planos urbanísticos reflectiam a segregação social da era industrial. O Centro tornava-se o local mais cuidado para onde convergiam as grandes obras de renovação. No Centro não faltavam, com efeito, os bancos, as bolsas de comércio e valores, os mercados, os espaços verdes, as praças e as espaçosas avenidas. Deste modo o Centro da cidade deixa de reunir a maioria da população urbana que se desloca para bairros adjacentes. Em Paris e em Londres as classes abastadas preferem os bairros ocidentais, enquanto o mundo do trabalho se localiza no Este e Norte. É nesta altura que surgem os subúrbios, terrenos circundantes às cidades onde se acumulam habitações de operários na maior desordem e são o símbolo da segregação social.
A Sociedade Liberal e os Grupos SociaisA nova sociedade Liberal do séc. XIX é construída com base numa série de mudanças sociais que provocam alterações no seu sistema. Deixa de se falar na sociedade onde os títulos e o nascimento significam tudo para se passar a falar numa sociedade de classes, mais abertas e fluídas, onde as hierarquias se determinam pelo lugar ocupado no processo de produção ou pela actividade profissional que praticam e por outras coisas como o grau cultural, o comportamento moral e religioso, a ideologia política ou o modo de vida.
Esta sociedade está assente no liberalismo político onde há um reconhecimento da igualdade jurídica de todos os homens perante a lei e liberdade política, além da abolição de privilégios de certas castas. Deste modo chega-se ao fim do predomínio da aristocracia que, no entanto, através dos negócios e do casamento, se mistura com a alta burguesia continuando a resistir às mudanças.
Há pois uma modernização da sociedade devido ao desenvolvimento tecnológico, à livre concorrência, à nova organização do trabalho, à produção em massa, à urbanização, aos sistemas de crédito e também ao desenvolvimento dos meios de comunicação.
A sociedade, agora apelidada de burguesa (o seu grupo dominante) é uma sociedade mais rica e complexa, com a criação de uma burguesia heterogénea que não suprime o agravamento das condições de vida da classe operária. É uma sociedade feita de conflitos sociais e onde cresce uma população com poder de compra – as classes médias, e onde aparecem novas necessidades que fazem surgir novos serviços.
As Classes MédiasAs classes médias são um mundo heterogéneo, um conjunto de grupos sociais socioprofissionais diversificados que vivem do trabalho assalariado, da gestão de pequenas empresas ou de rendimentos modestos. Não têm contacto com o meio produtivo manual nem controlam os grandes meios de produção.
São modestos empresários da indústria, trabalhadores do sector terciário donde se destacam os chamados “colarinhos brancos” (contabilistas, contramestres, escriturários, pequenos funcionários do Estado ou do privado, basicamente os empregados de escritório), possuidores de rendimentos ou profissionais liberais que vêm a sua profissão valorizar-se pelo seu saber científico lhes conferir autoridade e estatuto.
Têm um grau de instrução, um trajo e umas maneiras próprias que os distingue do proletariado.
Têm como objectivo de vida a ascensão social e frequentam os meios de negócio para se darem com a alta burguesia. Defendem valores como a segurança no emprego e o respeito e admiração pelo patrão. Além disto são pessoas bastante conservadoras e têm o sentido de ordem, estatuto e respeito pelas hierarquias, olhando com desconfiança o operário. Tudo o que lhe der estatuto é importante, a casa, a mulher (que não deve ser vistosa), a educação, a maneira de vestir e de se comportar, tudo isso é feito de maneira conservadora para mostrar a sua dignidade. A família é um valor defendido assim como o ensino pois estas classes prestavam exames que mostravam as suas aptências.
Embora até 1880 as classes médias tivessem permanecido na sombra da alta burguesia, novas oportunidades surgiram com a expansão do sufrágio universal. Além disso o facto de serem o grupo que representava a maioria da população e tinha bastante poder de compra isso tornava-as influentes na sociedade.
A Alta BurguesiaA Alta Burguesia é sem dúvida o grupo mais bem posicionado na escala social. Poderosa e influente, a burguesia surge-nos em famílias como os Périer, os Peugeot, os Rothschild ou os Rockefeller e constitui autênticas dinastias nos quais se perpetua o poder económico.
A alta burguesia empresarial e financeira surge-nos como um exemplo da mobilidade social ascendente que caracteriza a sociedade oitocentista. Nela a decadência é rara e a alta burguesia vai-se renovando com a média e pequena burguesia assim como com a velha aristocracia. Defendem os valores da aristocracia, chegam a imitá-los, e preocupam-se com as artes e as ciências. A família é um valor importante e vivem em luxo e ostentação e são pessoas activas na vida profissional. Praticam o mecenato e a filantropia – preocupam-se com a sociedade e patrocinam fundações humanitárias
A hegemonia desta classe assenta em três enormes pilares de poder. O primeiro é o poder económico que lhe assegura o controlo dos meios de produção e riqueza – são muitas vezes banqueiros, homens de negócio e investidores de empresas e bancos. Surge também o poder político, os empresários criam grupos de pressão e apoderam-se de lugares cimeiros na Administração Pública. A sua influência faz-se sentir nas políticas aduaneiras e tenta muitas vezes deter o avanço do socialismo e reprime greves e reivindicações.
Em relação ao poder social, este é exercido através do ensino e da imprensa, onde lança modas e ideias, difundindo os seus valores e modelando a opinião pública de maneira a torná-la favorável às suas iniciativas.
As pessoas desta classe vestem-se bem e com roupas de grande qualidade. Procuram casar-se e juntar-se à aristocracia, tentando comportar-se como tal e assumindo os seus títulos. São normalmente pessoas que nasceram em famílias ricas ou self made men que subiram na vida à custa das suas capacidades e dedicação.
Entre esta burguesia há uma nova moral convicta no lema de que cada um tem a sorte que merece. Desta maneira ser rico era motivo de orgulho e ser pobre era o resultado da preguiça e da ausência de talento e mérito.
A Alta Burguesia é, até 1880, o grupo social que detém o poder na sociedade. Desde essa altura a sua influência declina – passa a haver a concorrência política das classes médias, a educação popular escapa ao seu controlo e a combatividade operária aumenta.
O ProletariadoO Capitalismo, baseado na separação entre o capital e o trabalho, foi o principal factor que influenciou a situação do operário. Este vendia a sua força de trabalho em troca de um salário mas este seu trabalho estava sujeito à arbitrariedade e à exploração do empresário, resultado do liberalismo económico e da política de livre concorrência utilizada na altura o que resultava numa falta de regulamentação e na necessidade de lucro.
Assim o proletariado vivia em péssimas condições de trabalho: o salário e o trabalho dependiam do livre jogo da oferta e da procura, o horário de trabalho era prolongado, havia uma enorme exploração do trabalho infantil e das mulheres que ganhavam menos que os homens pelo mesmo trabalho.
As condições de vida não eram muito melhores visto que as pessoas não tinham acesso à educação, viviam em condições miseráveis, com habitações degradantes sem luz, higiene ou salubridade, a alimentação era insuficiente e propagavam-se as doenças assim como o alcoolismo, a prostituição e a criminalidade.
As Doutrinas Socialistas e a Evolução do Movimento OperárioAs doutrinas socialistas desenvolveram-se na primeira metade do séc. XIX e tiveram como objectivos comuns a denúncia dos excessos da exploração capitalista, a erradicação da miséria operária e a procura de uma sociedade mais justa e igualitária.
Estas doutrinas dividiram-se em dois tipos: o socialismo utópico e o científico.
O socialismo utópico é encarnado por Saint-Simon que se propunha a acabar a exploração do homem pelo homem entregando a direcção do Estado e a reorganização da economia a uma elite de sábios. Também Proudhon experimenta algo parecido, defendendo a abolição da propriedade privada, que considerava um roubo, e do próprio Estado, que classificava de desnecessário. Com a criação de associações mútuas pretendia pôr em comum os frutos do seu trabalho de maneira a não havia luta de classes ou intervenção do Estado. Também Fourier com os seus falanstérios ou Owen que pretendia uma sociedade mais justa encorajando os seus funcionários a criarem cooperativas de consumo, foram socialistas utópicos.
O que se pretendia com o socialismo utópico era criar uma sociedade reconciliada que apelava à cooperação entre as classes, organizando racionalmente a produção e criando o associativismo.
Pelo contrário, com o Socialismo Científico, Karl Marx e Friedrich Engels defendiam que ao longo da História havia uma sucessão de modos de produção devido à luta de classes. Essa luta, que nesse momento era entre operários e burgueses, conduziria à destruição do capitalismo e levaria à implantação da ditadura do proletariado que construiria uma sociedade comunista sem classes nem Estado – a isto chamou-se o Materialismo histórico.
Com base no estudo da economia capitalista, Marx concluiu que o capitalismo residia na exploração por parte do burguês do operário e defendeu uma luta de classes violenta entre operários e capitalistas de maneira aos operários conquistarem o poder político que daria origem à ditadura do proletariado. O Marxismo defende ainda a luta de classes à escala internacional pois para ele os operários não tinham pátria e assim ele diz “Proletários de todos os países, uni-vos!”. O Marxismo confere aos operários a esperança destes terem na mão o poder de mudar a sociedade.
Empurrado pela questão social, pela filantropia, pelos romances da época e pela imprensa e também pela indiferença do Estado surge o Movimento Operário que é a acção directa dos próprios trabalhadores para melhorar a sua condição.
Esta acção toma um carácter violento primeiramente, como é o caso do luddismo no séc. XVIII – tentativa instintiva por parte do operariado, sem qualquer combinação, fazendo greves e destruindo máquinas que foram reprimidas pelo patronato.
Mais tarde criam-se sociedades fraternas ou mutualistas que acudiam os necessitados em caso de doença, morte, velhice ou greves, com base na solidariedade entre os operários.
Destas sociedades surgiram as sociedades sindicais também conhecidas como “trade unions” e que lutavam pelas reivindicações dos operários e eram capazes de mobilizar grandiosas manifestações e greves. Reivindicavam por exemplo as 8 horas de trabalho e a nacionalização dos meios de produção.
Com o tempo, o sindicalismo assume a faceta de uma luta de classes e para coordenar o movimento operário surge em Londres a I Internacional que foi o resultado do apelo de Marx à união e à solidariedade internacional dos trabalhadores. Toda esta luta deu depois origem a partidos políticos sociais um pouco por toda a Europa.